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Expedição 6.000m: Acotango e Parinacota em três dias

Atualizado: 21 de jul.



Minha primeira experiência em alta montanha foi uma jornada inesquecível na Vila Sajama, na Bolívia. Situada nas proximidades do Parque Nacional Sajama, esta vila remota e encantadora é o ponto de partida para os aventureiros que buscam desafiar os picos imponentes da Cordilheira dos Andes. Localizada a uma altitude de aproximadamente 4.200 metros acima do nível do mar, a região apresenta um clima variado, caracterizado por dias ensolarados e noites geladas, com temperaturas que podem cair abaixo de zero. Adquira sua passagem aérea com 5% de desconto!


Diretamente da vila, existem quatro vulcões principais para colocar no seu desafio: Acotango (6.052m), Parinacota (6.380m), Pomerape (6.282m) e Sajama (6.542m), o maior da Bolívia. Entretanto, para começar qualquer um desses, é necessário realizar uma aclimatação adequada, então a viagem foi mais longa do que três dias (aproveita os cupons de desconto em roupas e equipamentos de trilha!)

 

O que você vai encontrar neste post?



 

Qual a melhor época para escalar os vulcões na Vila Sajama?


A melhor época é durante a Temporada de Montanha que vai de abril a setembro, isso porque tendemos a ter dias mais secos (sem chuvas e raios) e abertos, tornando mais segura a conquista. Não é impeditivo ir fora dessa época desde que consiga uma boa janela de tempo. No entanto, é importante estar preparado para variações climáticas e sempre verificar as condições meteorológicas locais antes de embarcar em uma expedição de escalada.



Quais trilhas de aclimatação foram realizadas?


A primeira parte da viagem foi chegar na capita da Bolívia, La Paz que possui 3.650m de altitude. Por lá permaneci por dois dias já aclimatando e conhecendo a região, depois disso que de fato a aventura começou.


Dia 1: fomos até o Glaciar do Huayna Potosí para aprender técnicas que seriam necessárias, além de testar as vestimentas que seriam utilizadas posteriormente. Foram cerca de 2h ida e volta caminhando e ultrapassando pela primeira vez o marco dos 5mil.


Dia 2: ida até a Vila Sajama de carro (cerca de 6h de viagem). Algo que me surpreendeu muito na região é a quantidade de lhamas, alpacas e vicunhas soltas pela região e a beleza dois quatro vulcões, principalmente o Sajama que dava para ver de onde eu dormia. Essa foi a base até o fim da expedição.



Dia 3: primeira trekking de alta montanha realizado foi em direção a Laguna Soropata, paramos na fronteira do Chile. Essa trilha além da beleza e elevação de altitude, foi bem importante para colocar um ritmo no grupo.


Dia 4: primeira alta montanha realizada foi o cume do Wisalla com 5.031m de altitude, foi inesquecível para mim. Foram 12km de trilha (ida e volta) e uma subida de 830m para chegar ao cume (saímos de 4200m). Além da beleza incrível, era muito nítido o visual do Parinacota, Pomerape e do poderoso Sajama (o mais alto da Bolívia).


No vídeo a seguir, é possível encontrar mais informações e detalhes de todos esses dias além de cenas cinematográficas.


Acotango


Na noite do Wisalla, acordamos para nos preparar para nosso primeiro grande desafio: Acotango com seus 6.052m de altitude. O vulcão é uma montanha localizada na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre a Bolívia e o Chile. Saímos da Vila de Sajama e seguimos em um veículo 4×4 junto com um guia local até o ponto de partida da trilha, a 5.300m de altitude por cerca de 1h. Aqui, você pode ver melhor como foi essa experiência.



A primeira parte é uma subida mais tranquila, depois o grau de inclinação aumenta consideravelmente e por último ocorre o trecho que é necessário a utilização do crampon. É considerado a opção mais fácil acima de 6mil na Bolívia para começar. Entretanto, lembre-se que não existe montanha acima de 6mil fácil e que as condições climáticas podem mudar muita coisa. Em destaque, os vulcões Pomerape, Parinacota, Sajama e Guallatiri.




A seguir um texto que escrevi no dia após a subida:

"E lá é você com você. Gostaria de romantizar e dizer que foi fácil subir o Acotango, mas eu estaria mentindo. E não foi fácil aceitar, o antes, nem o durante e nem o depois. Depois que aceitei o convite da expedição, eu passei por muitos altos e baixos. Eu nunca tinha ido para altitude na vida e estaria embarcando numa aventura acima de 6mil.


Subir não foi fácil, foi de longe fácil para ser sincera. Pegamos vento de 50km/h e temperatura de -30.. Era vento a subida inteira, eu achava que já tinha sentido tudo na vida. Fiquei com medo de perder os dedos das mãos, estava muito frio, meu coração palpitava e faltava ar, um passo de cada vez e uma subida interminável. Era o frio dos dedos, a fome, o cabelo na cara, a coriza no nariz e o tempo passando sem conseguir andar mais rápido. Eu não tinha coragem de abrir a boca para falar ou tirar as luvas para tirar uma foto. Só pensava em respirar e como doía fazer isso.


Ficava me questionando se eu era capaz, será que não estaria exigindo muito do corpo ou atrasando o grupo ? Eu não sabia o que estava passando com eles. Quando cheguei no crampon point, eu estava muito cansada e com muito frio.. faltavam 400m, eu via o cume e foi quando a Fer disse: "toma um gel, espera 5min e vem, você consegue"


E eu consegui com todo o grupo. Incrivelmente, depois que começamos a caminha na neve, ficou muito maia fácil e fluido pra mim. Engraçado lembrar que nada me abalava mais. Eu via o precipício dos meus lados e o vento forte e eu só botava um pé na frente do outro olhando o cume que era tão perto e tão longe ao mesmo tempo.


Quando cheguei, eu simplesmente caí no chão, as lágrimas vêm agora só de relembrar o momento. Nunca duvide de você mesmo."



Dia de descanso


Conquistar o topo de uma alta montanha é uma realização incrível. Mas não podemos nos esquecer como o descanso é importante. Inclusive, recomendo flexibilidade na sua expedição para possíveis descansos adicionais caso necessário.


1. Recuperação Física: Um dia de descanso permite que seu corpo se recupere, reduzindo o risco de lesões e dores pós-escalada.


2. Avaliação de Lesões: O descanso oferece a chance de avaliar qualquer desconforto ou lesões que você possa ter ignorado durante a escalada. É crucial tratar qualquer problema de forma adequada antes de seguir em frente.


3. Recarregamento de Energia: A escalada exige uma quantidade significativa de energia. Descansar é a oportunidade perfeita para recarregar suas energias, garantindo que você esteja revigorado e pronto para novas conquistas.



4. Apreciação do Momento: Durante o descanso, você pode refletir sobre a incrível experiência que teve na montanha, apreciando a beleza da natureza e cada conquista.


5. Melhora do Desempenho: Ao permitir que seus músculos descansem, você melhora seu desempenho geral na próxima aventura de escalada, garantindo que esteja no seu auge.


Na Vila Sajama, além de descansar, você pode relaxar nas águas termais naturais que a região oferece. Essas águas termais proporcionam um alívio incrível para os músculos cansados e um merecido relaxamento. E me ajudou muito na questão de respiração.


Parinacota


Na noite da terma, acordamos para nos preparar para nosso segundo grande desafio: Parinacota com seus 6.380m de altitude. Saímos 1h da manhã da Vila Sajama para a nossa ascensão à segunda montanha da expedição. Mais uma vez, fomos com veículo 4×4, mas o ponto de partida foi a 5.100m de altura. Isso significa que a subida seria muito mais longa do que o Acotango, já que o cume do Parinacota fica a 6.380m.



A caminhada começou em um trecho arenoso. Passamos por uma parte com bastante pedras, chegando a ter pequenas escalaminhadas, até chegar nas penitentes. Estes são formações de gelo pontiagudas encontradas em altitudes elevadas, além de tornarem a caminhada mais cansativa, também exige um cuidado extra. Em destaque, sua própria cratera e os vulcões Pomerape e Sajama. Aqui, você pode ver melhor como foi a experiência.



A seguir um texto que escrevi no dia após a subida:

"Queria dizer que a segunda montanha foi tão fácil quanto essa transição parece ser, mas na verdade não foi.Cada montanha é uma, e cada uma trás lições para você. Sabe o reino Tão tão distante do Sherek? Parecia que era nele que queria chegar, era só uma subida, uma subida que parecia eterna cheia de morena e penitentes. A montanha lá muda muito de uma semana para outra e eu entendi isso na subida.


Percebi que quando passei dos 5.800 novamente comecei a sentir o baque maior da altitude e meu ritmo diminuiu bastante. Nesse momento, eu falei que não iria mais subir a próxima, comecei com uma tosse absurda daquelas que geram refluxo. A sensação era que eu estava maltratando meu corpo e vieram várias lembranças antigas. Da época de anorexia, bulimia, mutilação, depressão e eu não queria isso pra mim.


Elói, o guia que estava comigo, riu e me abraçou e disse que era normal sentir isso, eu não estava acostumada... Que estava sendo audaciosa de fazer isso já. Me perguntou se eu queria chegar no Parinacota e eu fechei os olhos e senti no coração que era diferente.. eu tava fazendo algo que amava... Mas tinha seu preço. E eu disse que sim, que seria minha despedida da Vila Sajama, tava sentindo que ia adoecer depois disso. Então ele sorriu e disse, então vamos lá, porque você só desce hoje pra janta se atingir esse cume.


A cratera é linda, e o visual como um todo de frente para o Pomerape e para o Sajama são indescritíveis. Mas o melhor de tudo, foi vencer os traumas e entender que são coisas diferentes, foi ter o apoio, foi ter a superação.


Acho que toda alta montanha tem disso. Não foi fácil para ninguém, mas todos chegaram. A melhor parte foi a descida depois dos penitentes, descemos de ski boliviano e isso fez com que demorasse a 1/3 do tempo de subida."




 

Dicas extras para Alta Montanha


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Quem escreve?

Fernanda Diva sorrindo sobre uma montanha de nevada

Fernanda Diva

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Sou montanhista, viajante, cientista, escoteira, nômade digital, criadora de conteúdo outdoor & fundadora da SOUL AVENTUREIRA. Falo aqui sobre trekking, camping, escalada, montanhas, cachoeiras, praias e muita informação sobre o universo outdoor. 
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